Os seus cheiros são essências que me faltam

Os seus cheiros são essências que me faltam

sede que minha boca não alcança

flor que invejo do jardim do vizinho

ninho ao relento, no vento. Vazio

rio que não cruzo. Não sei mais a ponte

poente distante. Estrela que não alço

Só tenho um anzol que atiro para o céu

tentando laçar algum vôo

que me leve à frente

que me leva para o alto. Salto

mas não alcanço pássaro

criança, me volto à lição de casa

Se deus não me deu asas

eu que aprenda a construí-las

se ele me fez pequeno eu que aprenda o pulo do gato

se me deu pés descalços

eu que faça o asfalto. Corte o mato ao redor

se o sol é distante

eu que me conforme com seus raios

se me deu a sede, escondeu a fonte

fez os altos montes para o desafio

botou você na minha frente

mas não me deu o barco e a bússola

me deixou no mar bravio

e agora tenho que enfrentar os monstros

vazar a maré

cruzar o oceano sem armas

mas é assim que se faz a boa batalha

e o bom combatente

Se vou vencer ou ficar no caminho

é só um detalhe

não ralhe comigo

não me desentenda

nem me escame como faz sempre

ou faça

de qualquer jeito te amo

engano, erro, disparate, sonho

acordado estou aqui isolado

falando com o teclado

puxando um fio do meu novelo infindo

escrevendo chorando e rindo

porque não sei

não me explico mais

Se caio levanto e ando

se meu coração pára. Tento choque

se gostava de rock hoje me calo

e ouço o som de sinos

música latina, new age, não importa

meus ouvido só ouvem a tua voz

rouco eu fico de não dizer nada

palavras são elos de letras que não se rompem

tantas tretas sempre à frente

labirinto que me enfio

colcha de retalhos que fio e fio

e monto um mosaico estranho

que as vezes não reconheço

mas que tem sempre um só endereço

Sei que não mereceria tudo o que quero

é sério sou um cara que nada espera

nunca caiu fruta no quintal

do céu só espero chuva

no meu deserto uma deusa que me venha nua

insolitamente e a qualquer hora

e me cubra como uma nuvem negra

apocalipticamente escureça o mundo

desnude-me de vez e me fulmine com seus raios

ou me mate aos pouco

com as despedidas loucas

com água pouco ou nenhuma

da torneira que esgoto de vez

Eu daqui vou parando

sem chegar onde queria

sem ter mais aonde ir

circulo no teu ventre sem entrar

mas desconsidere o excesso

e tente descobrir o que gostaria de dizer

se descobrir informe-me

obrigado por ouvir

se grafei palavras rudes

deixou algumas sobressalentes

substitua-as:

amor, tesão, paixão, beleza, alegria, harmonia, chuva, uva, rio, mar sol e luar.