A VIDA NO JOGO DO TEMPO
Aos meus queridos filhos.
Do pé da pedra do Leme,
Contemplava a natureza.
Ondas bramem. Extinguem-se.
Deixando a pura beleza,
Da branca espuma deixada,
Na fina areia espalhada:
Telas de pinturas com leveza.
Os sonhos seguem no tempo,
A forma os vê com clareza.
Vi o homem na aventura,
Em sua prancha cavalgar,
Sentado, de pé ou deitado,
Sobre as ondas a deslizar.
Eles vão. Elas os trazem,
Impotentes, mas capazes,
Nesse eterno começar.
A vida será sempre efêmera,
O tempo joga para ganhar.
Mergulhei no mar da vida,
Abri o livro do tempo,
Pus-me, suas páginas a folhear,
Com cuidado e muito alento.
Se foi em sonho, não lembro,
Creio que era setembro,
A água, eu espreitava atento.
O foco óptico da forma,
Estava aquém do seu tempo.
Sentados na areia branca,
Estavam os dois pequeninos,
Cabelos soltos aos ventos,
Sobre a luz do sol. Luzindo.
Nas mãos as conchas do mar,
Na areia, rabiscos a traçar,
Vinha a água. Iam sumindo.
Tique taque, marca o tempo,
A forma segue sorrindo.
Ficavam tempos a fio,
Nessa disputa sem par,
Rabiscando seus desenhos,
Que a água vinha apagar.
Eram eles persistentes,
Punham barreira a frente,
Não tardava, a água ia limpar.
Insiste a forma, revela a vida,
O tempo não pode esperar.
Aos poucos fui saindo
Do transe do mar da vida,
Ouço o murmúrio das ondas,
Na areia, espumas desfalecidas.
Retomo a minha visão,
No peito, bate forte o coração,
Foram lembranças enriquecidas.
O ser, a forma,
Não passam de um jogo,
Entre o tempo e a vida.
Rio, 22/05/2010
Feitosa dos Santos