Apenas queria te escrever um poema

Puxa vida,

Estou tão sem inspiração

E eu queria tanto te escrever um poema,

Qualquer um,

Simples que fosse

De versos brancos ou não

Metrificados ou não,

Eu queria agora te escrever um poema...

Não sei bem por que,

Apenas queria te escrever um poema,

Um poema de versos

Densos, ou suaves,

Um poema que fosse igual a um cumprimento,

Como um “oi, tudo bem?!”...

Sei lá,

Apenas queria te escrever um poema...

Mas eu não consigo,

Eu que faço verso de tudo,

Que escrevo andando,

Que escrevo no banheiro,

Eu que acordo com versos

E sonho com eles

E escrevo em qualquer tipo de papel,

Eu que escrevo sem método,

Como se estivesse vazando,

Sangrando,

Eu que faço de cada dor,

De cada vazio,

De cada impossibilidade

De cada sonho que tenho,

Eu que faço de tudo versos,

Talvez destituídos de arte,

Versos múltiplos

Proliferados por sublimantes arroubos

Guiados por essas, agora, ermas mãos,

De tetraplégicos dedos,

Solidários nesse momento de

Abandono e de silêncio

Em que não consigo te escrever um poema fácil...

Não me vem nada nesta hora

Em que tanto quero te escrever um poema,

Simples que seja

Só pra dizer algo como um “olá”,

Mas nada,

Sinto-me impuro,

Nenhum verso se rende a mim...

Você não sabe como me concentrei

Fechei os olhos,

Fiquei estudando cada sensação

Que ia tendo,

E vi o mar dos meus sentimentos

E vi a profundeza de minha escuridão

E me vi a andar por entre meus precipícios

A procurar um verso livre

Disposto a me ajudar

Nessa simples empreitada

De te escrever um poema,

Sei lá,

Que fosse apenas pra desejar bom o teu dia...

Eu não quero fazer um poema

Com esses meus versos tão batidos,

Procuro versos puros

Brotos na floresta de minhas palavras

Alguma coisa que não revele minha decepção

Com os lances da vida,

Que é pra que você se sinta bem,

Eu só queria que você se sentisse bem

E quem sabe esquecesse as bobagens

Que andei te falando, falo tanta bobagem...

Puxa vida, eu não consigo...

Deixarei aqui então registrado

Que nessa noite de esquecimento,

Em que me sinto tão pequeno,

Eu desejei te escrever um poema

Que relatasse alguma coisa,

Algo que não sei,

Sem razão, sem dor,

Apenas uma vontade,

Uma profunda vontade

De escrever algo para ti...

Queria tanto realizar essas estrofes,

Assim poderia ser que soubesses,

Através desse poema não revelado,

Através desses versos

Tão puros,

Intocáveis,

O que eu sinto por ti,

E não hesitasses mais...

Eu sinto por ti

Tudo que esse meu poema

Poderia te dizer...

Esse poema que não consigo escrever...

A noite está ruindo, e se alonga,

Ainda vou ficar por aqui

A procurar entre essas faces decaídas,

Entre esses versos renegados,

A tatear nesses escuros,

Meneando com jeito

Entre essas coisas tão delicadas,

Quem sabe antes que termine a madrugada

Eu posso inventar uns versos belos

E te presentear

À chegada dos primeiros raios solares...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 23/08/2006
Reeditado em 24/08/2006
Código do texto: T223375
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