Fragmentos

Uma certa boca sorria descaradamente enquanto seus lábios rosados manifestavam-se em notas desafinadas. Um arrepio. Um certo par de olhos ocultavam a música a tocar. Uma banda em desarranjo na ausência de sintonia despejava seus tons marrons, apenas sons.

Um palco inconstante cheio de risos, pulos e gritos que pareciam ser forçados ou ensaiados. Uma solidão a dois que logo esmaecia.

Um sujeitinho de dois sorrisos numa mesa de botequim fitava-me entre um gole e outro. Uma lua desvirginada a encantar a madrugada. Uma dança, uma harmonia, um flerte. Um risco, um gesto, um riso rio à fora.

Uma hora indefinida. Uma poesia sem rimas e sem sentido que tentava seguir a canção já quase esquecida pelo anoitecer. Um bom vinho seco servido à mesa. Uma brisa fresca. Um animal de rapina. Uma virgem exalando seu perfume como uma flor. Um vento frio. Um calor incessante. Um suspiro. Um delírio. Uma certa chama arde em ambos os olhos.

Um reflexo atrai meus sentidos e desejos escondidos. Um medo. Uma súplica. Um sim. Um não. Um não dizendo sim. Um mel. Um fel. Um grito. Um gemido.

Uma boca. Uma tontura. Uma loucura. Um novo disfarce. Uma nova face. Uma face confusa. Uma face de uma menina. Uma face masculina. Uma santa. Um maroto. Uma atrevida.

Uma mão que suavemente toca meu rosto e depois meu corpo inteiro. Um carinho. Um pudor. Uma troca de olhares. Um breve sorriso de um iluminar jamais esquecido. Uma troca de sorrisos. Uma empatia. Uma fantasia. Um querer. Uma vontade de ir do alvorecer ao crepúsculo e ainda tê-lo pelo pulso. Um lapso de desejo. Um encontro de dois corpos. Uma audácia. Um tresloucar. Uma mão que se perdia pelas curvas de uma mulher. Um bagunçar nos lençóis e nos cabelos. Uma cama quente, fervente, indecente. Um corpo que tornava-se o porto do outro. Uma alma nua que entrelaçava-se a uma outra entre a vontade e o cansaço. Um sabor adocicado e apimentado. Um novo gemido. Um grito quase que silencioso. Um suspiro de ambos. Um prazer incessante. Um enlaçar de laços. Um fogo embaralhado que quase roubava todo o ar. Um revirado e imprensado pelos lençóis. Um calor. Um suor. Uma sequência de suspiros e gemidos. Uma voz cansada a dizer doces palavras. Um sorrir com os olhos e os lábios. Um prazer satisfeito. Um repouso. Um entrelaçamento sutil que esperava ver o Sol nascer. Um adormecer que observava o espelho que refletia um outro amanhecer. Um amanhã tão incerto quanto os nossos pensamentos.

Um silêncio que trazia consigo todas as respostas.

YIFS
Enviado por YIFS em 22/02/2010
Reeditado em 11/03/2010
Código do texto: T2102212
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