AMOR PASSAGEIRO
AMOR PASSAGEIRO
me lembro bem:
não sei como nos conhecemos,
foi numa noite qualquer e vazia.
eu pleno de desejos,
te levei para um hotel,
fomos nos abraçando,
tocando-nos,
beijando-nos.
te despi meticulosamente,
te cobri com carícias profundas,
vivemos inferno, céu,
êxtase, agonia.
vivemos tudo,
muito mais ...
invadi sua intimidade,
violei princípios
meio
sem fim.
toda insanidade
rabisquei seus seios
com a unha de adaga.
devorei seu batom barato,
choque de línguas,
comi no seu prato,
bebi de sua fonte,
mel oleoso,
um aroma gostoso,
sabor agridoce.
parece que foi ontem,
sei que nos amamos,
com instintos bestiais,
não sei seu nome,
sei de minha fome,
não conheço onde mora.
por qualquer coisa cora,
como se fosse casta,
quase vírgem imaculada
adivinho de que gosta,
a porta arrombada,
o quintal invadido,
a mesa posta,
serve-se sem pudor,
jeito bandido,
diz que é amor.
dubla orgasmos,
inventa gemidos,
cria gritos,
finge-se pasma;
que vai casar um dia
em que não chova;
nada mais disse,
foi embora
ainda madrugada.
só deixou escrito,
no espelho embaçado,
levo os sonhos seus,
te vejo, depois, talvez,
adeus!
[gustavo drummond]