REMOTOS RABISCOS (do real retrato)
REMOTOS RABISCOS (do real retrato)
Na câmara dos sonhos dorme tola imagem,
envolta em cortina furtada à janela
que mostra, a navegar os mares de solidão,
o pintor, a procura de ideal aquarela,
para colorir de euforia sua paisagem,
soturna, ávida de ternura, compreensão !
A câmara torna-se, devagar, galeria
de quadros pintados com tintas abstratas,
tradutores de sensações fugazes, meras,
geradas quando os pincéis, em rebeldia,
agitam-se, descontrolados, como datas
que remam compondo do tempo as galeras !
O silêncio domina a sala solitária :
sons mágicos partem das telas sem contorno,
pungem o interior sagrado do pobre pária,
negam-lhe o tesouro das cores de retorno.
O chão da câmara a luz negra não suporta
e o pintor, com tintas que existem, tenta
desenhar alguma fuga nalguma porta :
falha, condenado sem luz de cor que alenta ...