INEXPLICÁVEL
Fátima Irene Pinto
Já sentiste por alguém uma ternura inexplicável?
Uma vontade de acalantar, pegar no colo
um certo alguém especial,
que não sabe o quanto é especial?
Um alguém metade adulto, metade menino.
Metade independência, metade desamparo.
Metade sabedoria, metade inocência.
Metade cultura, metade despojamento.
Metade amargura, metade esperança.
Um jeito (só dele) de pedir ajuda, sem dizer palavra.
Um modo de sumir de súbito, pra não comungar tristeza.
Um reaparecer do nada, estendendo a mão.
Já sentiste por alguém um sentimento assim,
parecido com o que a gente sente
por um filho ou um irmão?
Já quiseste dizer para este alguém
reclinar a cabeça no teu colo
repousar a carga no teu ombro
desabar em lágrimas, aninhado
no calor do teu amplexo?
E deixar então vazar essa ternura
que ele provoca, sem fazer nada,
mas que, em nosso coração,
transborda ... inexplicável!