O guardião das orquídeas
Ontem, choveu e eu me embebedei junto a terra.
Assisti as xananas espiando para fora do verde,
seriguelas se lavando para se dar aos pássaros
e o torrão ressequido chupar as gotas até mudar de cor.
Hoje, o horizonte não me trouxe sinais.
A não ser sua própria presença.
A tela aberta pronta para receber pintura de nuvens.
Então, abri o embornal das lembranças
e tirei de lá a alegria de saber
que não é necessário ver as nuvens
para se ter certeza das águas.
Sou o guardião das orquídeas,
que pedem um ano para entregar sua flor.
Sou o semeador das jabuticabeiras,
que sequer prometem frutos a quem as semeia.
Sou artesão de sublimidades,
as quais crio com trançados
de raros detalhes sazonais.
Por isso, não estranhe o meu sorriso
nem meu olhar que se volta para o futuro
até se misturar com o azul do horizonte.
Estou aguardando as próximas gotas,
encantado com a própria espera.
07-07-09