Mudou de casa e cabelo
“O seu nome... o seu nome era.../ perdeu-se na carne fria,/ perdeu-se na confusão de tanta noite, tanto dia/ Perdeu-se na profusão das coisas acontecidas./ Mudou de cara e cabelos,/ Mudou de olhos e riso/ Mudou de casa e de tempo, mas está comigo, o seu nome... (Ferreira Gullar, do poema poema "Eu não sabia, tu não sabias")
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Ela se foi pela porta aberta
Pelo ralo da vida
Por onde nasce o sol
Pelo outro lado da rua
Passou como sol pela vidraça
Trouxe calor e luz
Mas depois veio a noite e o frio
E na chegado do inverno tudo se desmanchou
(ou foi eu quem quis assim?)
Como vai o rio
Como cai a chuva
Como a terra muda de lugar
E ninguém nota a sua velocidade extrema
Mudou
Tudo mudou
Como se muda de tema
Na poesia
Como muda de ritmo a cada melodia
De repente
Como um dia depois do outro
Como o novo que vem com o broto da planta
Como quem canta um tango
E fica à beira do caminho
Feito um tolo de uma canção antiga
Que tudo muda
E mudou
A forma de rir e de dizer: amor
As carícias ...
Tudo ficou na outra margem
De um rio sem ponte
No poente de ontem
Na nascente, além da curva da estrada
Mudou
Tudo mudou
Do certo para o impreciso
Do riso entredentes
Para um horizonte à frente, novo