OUSADIA
Aos quatro ventos... meu Poeta,
Gritas essa tua insana fantasia,
Nesse teu alento repleto de desejo,
Perdido entre os muros dessa poesia
Que me fascina, me mastiga e almejo;
Em mais do que singelos momentos,
Entre as dobras da minha alquímia,
Me encontras e, sugas meu tormento
Com essa tua perfeita e total maestria,
Que irradia cada teu uníco pensamento;
O prazer de um só e síngelo beijo,
Que vira meu mais insaciável alimento
No elejo do teu ter e não poder o ser,
Nessa carente, trêmula e surda euforia
Que se aquece em mim e em ti apetece!
A anestesia demente duma só carícia
Que em teu vão sonho se faz ousadia,
Atormentando a cama e corpo vazios
No que impera deprivado por minha mão
Para acalmar essa tua agonia e espera!
Minha boca no adoçar dessa rebeldia
Que te ama, te prova e em ti se queima
Nos porões do indeniável prazer e do suor
Que se perdem em implácaveis sensações
Nos confins desse nosso insaciável ardor!
Ah!... Tormento de desejo e ousadia,
A audácia do teu beijo e acalento do verso
Pode arrancar-me a roupa sem nem me tocar,
Pode queimar-me o corpo sem poder recusar,
Mas éis você me perguntar se quero provar?
Poeta, deixa-me avaliar esse devasso desejo
E o alento do teu beijo por um momento!...
Salomé
Ess. "Paixão e Devoção" 2009