FRAGMENTOS DO CORAÇÃO
Nuvem escura agitava-se, raios cortavam o céu,
Sob cabanas de palhas, ouviam-se fortes ruídos,
Agachava-se sobre o chão, ao relâmpago espreitar.
Da chuva torrencial, dos ventos, fortes zumbidos,
A plantação muito verde, ramagem a balancear.
Aprendia-se em criança, respeito e zelo a natureza,
Dos velhos os ensinamentos, o poder e a grandeza,
Para abrandar tudo isso; ensinavam-nos a rezar.
De mãos postas se pedia santa Clara, santa Clara
Mandai o sol vir de novo, trazendo um límpido dia.
Minha mãe sozinha em casa faça isso, por favor,
Não quero ficar sem ela, pois sei que se angustia.
Quando vem a tempestade, o recôncavo um horror,
O gado foge da várzea, as mães se pegam a orar,
Os pais acalmam seus filhos, tentando-os acalentar,
Contam história passada, narrando com muito amor.
Os vales estremeciam, quando o trovão retumbava,
Nas nuvens listas de fogo que os relâmpagos faziam.
Encolhido mais nos cantos ficava quieto o menino,
Os adultos a reclamar, vez por outra, se maldiziam.
A enxurrada levava o que havia plantado; oh! Destino,
Lá no brejo é assim, Deus dá, mas Ele também tira,
Segundo seus ensinamentos, não admite a mentira,
Por isso muitos adultos, fazem promessas a caminho.
Já era quase noitinha, quando o tempo se acalmava,
Pegavam-se os equipamentos e, pela colina descia.
Escorria muita água, da terra para o córrego e o rio.
Lá por cima na mata da serra, um clarão que alumia,
O pai acolhe ao filho, aconchega-o, pois ele sente frio.
Quase ao sopé da colina, o rancho que acolhe a vida.
O candeeiro ilumina a casa. Que cheirinho de comida!
Uma figura de santa afaga-os sobre seu peito sombrio.
Rio, 27/05/2009
Feitosa dos Santos