Mordeu meus lábios e bebeu das minha águas

"A mensageira dos anjos/ Com seu cabelo lilás/ Aperreava os demônios/ que habitam as catedrais do meu peito de menino.../ Como uma estrela cadente/ Entrou na minha morada/ Bebeu de minha saliva/Saiu e não disse nada" (Alceu Valença, in Mensageira dos Anjos)

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ela tem fome de letra

não teme

palavra em riste

tem o poema como espada

desafia

não bate na porta

entra

ela não é santa

é certo

só um anjo dourado

uma fêmea extrema

provocativa

absoluta

ela entrou no meu sonho

e me deu o mote

o bote e a poesia

fez arrelia no meu peito

fincou sua mordida

deixou seus dentes nas minha pele

e foi embora

ela tem o dom de letra

pinta borda, desatina

absoluta, domina,

rainha

manda nas nuvens

nas ondas e nas marés

ela é assim, provoca

rebola, dança

e assanha.

Na manha

ela entrou no meio da noite

fincou âncora no meu coração

quebrou as trancas

vidraças

fez arruaça

misturou suas pernas na minha

enfiou sua rimas nos meus papéis

fez estrepolia e gozo

eu sei ela não é santa

é só um anjo dourado

destes que saem à toa à noite

destoa

camaleoa das madrugadas

fértil

no cio

usa e abusa de seus atributos

resoluta

absoluta

reina e ponto

Ela é fácil para poemas

manda bem

não tem desconto

rima de pronto

pega o mote

palavra em riste como espada

abate a presa

embenha-se entre

foi assim que chegou

e pousou suas asas sobre meu leito

deitou-se sobre meu peito

falou impropérios

mordeu meus lábios

bebeu minha águas

saiu e foi embora