Ave maravilhosa

Há momentos para tudo

Para o certo

E para o errado

Não sei se falei

Se fiquei mudo

Ao te ver do meu lado

Não me lembro disso com clareza

Você, a essa altura,

Já conhece alguns dos meus pecados

Eu não sei...

Mas vivemos alguns sonhos

Talvez não os mesmos

Talvez contraditórios de mais

Todavia

Apesar de não sabermos bem

Para onde navegávamos

Estivemos sempre,

De alguma forma, ligados

E também não sei

Se a eternidade

Com todos os seus mistérios

E suas forças ininteligíveis

Que tanto assombra a alguns

Que tanta admiração desperta em outros

Será suficiente

Para nos separar de vez e para sempre...

As mazelas

Os carinhos

Alternam-se com tanta freqüência

Entre nós

E eu não sei em você

Mas em mim,

Se não estou bem contigo,

Em mim dói...

Eu, um homem que abdicou

Da liberdade dos sonhos e dos desejos,

Tenho uma idéia fixa,

Um rio no meu coração contraditório,

Enterrei dos os almejos,

Fiquei só,

Só eu e os pensamentos que me sobrevoam

De dia e de noite

A toda hora,

São pássaros negros que me seguem,

São pássaros aduncados

Que existem no meu universo

De formação impossível explicar,

Coisas lá de tempos mortos

Coisas que aconteceram

Antes que me achasse neste mundo,

Tudo isso talvez...

No entanto,

Em meio a essas noites de tristeza pontiagudas

Andando pelas ruas desse universo

Com os tais pássaros me seguindo,

Sobrevoando-me em espiral,

Outros deles sobre os muros infinitos

Lançando-me olhares desdenhosos

Alguns mais atirados

Que dessem em vôo rasante

E finca garras no meu corpo

No meu corpo habituado a dor

Assim quando estou eu zumbizado

Como se quisessem que eu não descansasse

Como se quisessem que eu visse tudo

Ruas ermas

Sombras humanóides transeuntes

Outras, à minha aproximação,

Recolhendo-se em seus nichos mas noturnos que a noite

Outras ainda blasfemando

Irritadas

Esfaqueando-me nas ilhargas

Enquanto era distraído por outras de dentes alongados

Rindo de modo estridente

A ponto de explodir os tímpanos...

Eu apenas ia seguindo

Me perguntava por que seguia

Me perguntava por que me perguntava

Mas ia sem quereres

Nem vontades

Sobre os pés conscientes...

Em meio as aves monstruosas

Que me lembro se eu mesmas

As criei, cativei, formei...

Às vezes e de repente

Medrando muitas daquelas

Aparecia de quando em quando

Uma ave de tom branco

Que carregava e protegia

O meu único sonho importante

Mas isso era muito infreqüente

Por que essa ave maravilhosa

Só me deixava vê-la, e de modo fugaz

Quando estava tudo bem entre a gente...

Eu não sei

Talvez tudo um dia acabe

Talvez não

A estrada em que ando

Vi num pedaço velho e sujo de papel

Que o vento carregava

Li-o então,

Pareceu-me

O fim de um poema,

Ou começo

Poderia ser o meio...

“Aqui teu pensamento, tua solidão”.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 25/03/2009
Código do texto: T1504944
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