Pedras opacas ao banho de lua
No morro dos cachorros que uivam
morro de amores, solitária loba
um rio passa a limpo as nossas vidas,
jogo na mesa todas umas poucas fichas
Corro desimpedida pela mata
matam-se as crenças em mim
que me fino também, assim
No mato sem cachorro ou lobo
será que me morro enfim?
Não quero mais essa brincadeira
Vou trocar de atiradeira, pegar
um pião na unha, fazer a piorra rodar
Porra! Não era assim que o amor
devia vir: devagar e certo, belo?
Tinha que ser tão avassalador?
Deixar-me prostrada em joelhos
a mendigar teus favores. Então
já não me queres como te amo.
Se me infliges uma dor sem lança
eu na mão, em contradança,
as crenças tantas contrariando .
Fazia eu melhor só comigo,
mas há a saudade de ti.
Eu mesma sei mais não de mim,
como chegaste a assim.
É fortuito o teu agrado,
foi ciranda o nosso passado:
vidro quebrado, rua sem ladrilhos,
apenas e tão só pedras opacas.
Eu, ainda enlevada, encantada.
A vida tornou-me tensa, que só
o lacerante uivar destoa
tudo à volta está um nada
em mim há mortes tantas
das pessoas que fui e sou, oh!
Tanto sofrer só pode adivinhar
alvíssaras, ou a final ceifa fatal .
Dou um giro e já sou uma nova
quem não te quer a meu lado,
estás acuado por mim, comprova
não mais te amo, vestida carmim
estou na rua, nua a fera solitária
uivando veraz em banho de lua...