A Casa Refletindo
I
Há em minha casa
Alguma coisa
Que se acumula
Enquanto as horas passam
A cada dia que se vai
Amontoa-se pelos
Cantos da sala,
Na escuridão de meu quarto
Absorto
Ando me desviando desses
Pequenos montes e
Procuro viver com se eles
Não estivessem ali
Finjo que não existem
E aproveito da casa
O pouco espaço que
Ainda me resta
Onde alguns
Raios de luz ainda chegam
A cada momento,
Menos espaço me cabe
E tenho que ir me
Ajustando com
Cada vez menos
Há muito disso no chão,
Na penumbra.
Quando por entre eles ando
Tomam consciência e,
De sua imaterialidade,
Parece me perguntar
Sobre algo para o qual
Não tenho resposta
Então vaza-me o silêncio,
Materializa-se,
Anda pela casa e deposita-se
Num canto que lhe é especifico...
Passa a ser mais um dos que
Me exigem respostas
Cresce também,
Enquanto anda o tempo,
A um canto, o acúmulo
De meus silêncios
Vivo com cada vez menos
Na expectativa de
Passar a viver de nada
II
Minha casa foi invadida pela
Saudade
É ela que se acumula inexoravelmente
É ela que me faz perguntas
Que geram silêncios...
É ela que, como teia de aranha,
Está no telhado,
Nos cantos das portas,
Debaixo da pia,
Debaixo da cama...
A Saudade invadiu meu quarto,
Pouco espaço deixou para a luz
Que respiro,
Que ainda alimenta a voz destes olhos
As janelas desta casa estão entreabertas
E, de fora,
Não se ver o que existe lá dentro
Minha casa, meu corpo
Meu quarto, meu coração
Pouca luz há neste quarto,
Porque meus olhos-janelas
Estão quase fechados...
A porta de minha casa
Espera em silêncio três
Batidas que façam desaparecer
Todos esses acúmulos
Ela está esperando uma visita
Que traga lenha para lareira,
Que traga calor para sala e
Luz para estas vazias janelas
Meu quarto espera teu barulho
E minha cama aguarda o teu corpo...
À tarde saio para ver o rio,
À noitinha, em casa,
Meu coração te chama
E o meu amor aguarda
Calmamente tua chegada...
2002-UEMA