Mar Revolto
Navego em um mar revolto
Meu barco, metade imerso
Um barco que já singrou solto
Metade desse universo,
Que hoje por força de verso
Chamarei de Mar Reverso.
Ah, reverso que me mata
Aflito e sombrio pensar
De uma escrita exata
Me coíbe o livre expressar
Reverso do verso que escrevo
Um pesar macio que vem
Me adormece em suave enlevo
Não me deixa ver ninguém
Perdido na bruma confusa
De café, espuma e fumaça
Biscoitos, papel e trapaça
Me pergunto ali o que é meu
E o que é que me ameaça?
O que de mim se escondeu?
E o que faço pra sair do breu?
Se pareço não saber nada,
Não é por que sei demais?
Não será que dessa estrada
Andei lendo deveras os sinais?
Me desfaço de todo orgulho
Pra apenas observar calado
Enquanto durante o mergulho
O Oxigênio me é negado.
E ainda assim, resiliente, resisto
Trago da alma fôlego e poesia,
E ainda assim trôpego, de maresia
Eu lavo meu ser e insisto.
Até quando singrarei essas ondas,
Revolutas de maremotos antigos?
Até quando ó mar, se esconda
Procurando em pedras abrigo?
Por que não permitir meu prazer,
Que sempre senti em singrar
Mares assim, até o vento trazer
Pra uma praia boa de estar?
Por que não deixar pra Netuno entregue?
Ou talvez quem sabe, até para Iemanjá
Deixar que alguns problemas carreguem.
Encostar em minha proa, e só namorar...