SOBREVIVENTE

Por entre as brumas mais densas,

ziguezagueando pela floresta,

trazendo atrás de si o frio, que tudo

desmembra e nos deixa alucinados,

alheia me pareces, às agruras do

tempo inóspito, e entrando na água,

de um rio ali perto, banhaste em

êxtase, tendo o silêncio a teu lado.

Fascinado com tal visão e um tanto

perplexo, pergunto-te se não há frio,

que te perturbe, vendo-te acolher as

águas gélidas, como algo de natural,

tendo à tua volta, neve e nevoeiro,

que até os pobres dos animaizinhos,

se recusam a enfrentar, preferindo

a segurança e o quente de suas tocas.

Relembras-me que és filha da natureza,

e que todas essas coisas banais, que aos

homens fazem recuar, são para ti parte

integrante de tua vida, tua casa sem fim,

por onde percorres os teus passos,

enaltecendo a beleza, que te viu nascer,

entregando-te à água, terra, ar e fogo,

na mais das sublimes e verdadeira entrega.

Como tudo o que é natural, assim és tu,

sem mostrar qualquer tipo de pudor,

que te arranque cerce a raiz da liberdade,

que é tudo aquilo porque tu prezas e lutas,

de há muito a esta parte, quando a vida,

a certa altura, resolveu ser cruel contigo,

deixando-te numa luta a sós, até te levar,

longe da vista, a clarividência da natureza.

Haverias de voltar, solene, à mãe de tudo,

ultrapassadas as contingências e agoiros

mil, que te tentaram derrubar sem pejo

algum sem dó nem piedade, fruto da malsã,

de gente má, que, não conseguindo, tua

heresia, lhes ficou o espanto, por recordação,

quando agora, reconquistada a tua vida,

passam por ti e reparam que, enfim, cantas.

Jorge Humberto

10/11/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 11/11/2008
Código do texto: T1277843
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