DESPEDIDA
(Fátima Irene Pinto)
Pegarei todos os meus sonhos e os despacharei em envelope pardo, destinatário incerto, sem remetente.
Passarei um pincel escuro no arco-íris que inocentemente eu desenhei carregado de cores.
Amassarei de vez todas as flores de mentirosas esperanças e arrancarei até mesmo os falsos botões que estão por vir.
Nublarei a noite quando ela me escancarar a lua cheia, apagarei uma a uma, todas as estrelas que teimarem em tremeluzir.
Tingirei de cinza a manhã mais luminosa do meu santuário, emudecerei o canto do meu sabiá canoro e não farei mais festa para o meu colibri.
Desfarei todas as pegadas do caminho onde os teus passos e os meus estiveram perfilados.
Encherei de colcheias e semifusas confusas todas as canções que arrancaram lágrimas deste meu coração emocionado.
Farei em pedacinhos pequenas e grandes lembranças palpáveis.
Destroçarei também as recordações não palpáveis que um dia me deram provas incontestes do teu amor e dizimarei todas as angélicas hostes que me atrelaram a ti, esquecidas da minha dor.
E se porventura em sonhos minha alma desvairada te buscar e, em prantos te encontrar andando pela rua, abraça-me com aquele carinho de antigamente,
porque sonhando nossas almas não mentem,
E a minha te dirá que ainda sou tua !