DESPEDIDA
(Fátima Irene Pinto)
 
Pegarei todos os meus sonhos e os despacharei em envelope pardo, destinatário incerto, sem remetente.

Passarei um pincel escuro no arco-íris que inocentemente eu desenhei carregado de cores.

Amassarei de vez todas as flores de mentirosas esperanças e arrancarei até mesmo os falsos botões que estão por vir.

Nublarei a noite quando ela me escancarar a lua cheia, apagarei uma a uma, todas as estrelas que teimarem em tremeluzir.

Tingirei de cinza a manhã mais luminosa do meu santuário, emudecerei o canto do meu sabiá canoro e não farei mais festa para o meu colibri.

Desfarei todas as pegadas do caminho onde os teus passos e os meus estiveram perfilados.

Encherei de colcheias e semifusas confusas todas as canções que arrancaram lágrimas deste meu coração emocionado.

Farei em pedacinhos pequenas e grandes lembranças palpáveis.
 
Destroçarei também as recordações não palpáveis que um dia me deram provas incontestes do teu amor e dizimarei todas as angélicas hostes que me atrelaram a ti, esquecidas da minha dor.
 
E se porventura em sonhos minha alma desvairada te buscar e, em prantos te encontrar andando pela rua, abraça-me com aquele carinho de antigamente,
porque sonhando nossas almas não mentem,

E a minha te dirá que ainda sou tua !
 
(No livro Ecos da Alma - Soler Editora)


Imagem arquivo da autora
www.fatimairene.com
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 21/10/2008
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1240519
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