DESABANDONO
Para que eu pudesse sair
do vazio em que me perdi,
arrombei uma porta,
derrubei uma cerca,
fiz um muro ruir,
sumindo, na poeira da estrada,
sem sequer pensar em ti.
Pois, se pensasse,
não partiria.
Jamais escaparia
do teu sortilégio mortal,
desse teu mortífero veneno,
que ao mesmo tempo que me mata,
também me alucina e embriaga.
Mas fiz.
Te abandonei.
Sem meias medidas
ou medida e meia.
Te deixei à míngua,
sedento,
lobo faminto uivando
em noite de lua cheia.
E mesmo que ainda me doam
as cicratizes
de todas as feridas,
ainda que não seja de todo feliz,
já me posso olhar no espelho
sem o pensamento à esmo,
ao teu entrelaçado,
seguindo caminhos que nunca quis.
- por JL Santos, em 20/10/2008 -