ERA UMA CASCATA

Como cascatas livres, assim teus cabelos,

desaguando na púbis, que se esconde, por

entre as águas rebeldes, descendo as

montanhas, desde a sua nascente, até ao

mais interior de ti: flor crescente, de teu ser.

Afloram tuas coxas, abrindo círculos na água.

E, banhando-te, nas águas límpidas, num

abraço, tapas teus seios desnudos, e, limbos,

prendem-se à tua pele, para, gradualmente,

irem caindo, mostrando a beleza de teu corpo.

Dizes-me para entrar, esquecendo pudores,

persistentemente fixos na memória. Para jogar

tudo fora, e, despindo-me, entrar no lago,

e juntos desfrutarmos, do melhor que a natureza

tem para oferecer, sem regatear nada em troca.

Convencido, ainda, que um pouco hesitante,

livro-me das roupas incómodas, jogando-as nos

arbustos. Está sol mas as águas estão geladas, e,

meu primeiro impulso é sair, até que me chamas,

para junto de ti, pedindo-me que te ajude a lavar.

Depressa me acostumo à friagem, e, em uníssono,

lavamo-nos um ao outro, num erotismo, que não

se esconde, pois tudo o que é natural é belo e

deixamos correr, em toda a sua simplicidade, o nosso

grande amor, que as águas acolhem, com agrado.

Por fim saindo e deixando para trás a cascata,

colhendo nossas roupas, aqui e ali, entre medronhos,

vestimo-nos, como dois seres purificados. E, escutando

o cântico das águas, damos nossas mãos, vagarosamente,

a meio à paisagem, descendo então, íngreme montanha.

Jorge Humberto

17/10/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 18/10/2008
Código do texto: T1235128
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