CÓDICE

Curti com esmero,

A pele do sacro cordeiro,

Alisei, preparei, pus carinho,

Qual um pai dá ao filho,

Coloquei zelo, primei,

Cobri de sentimento,

Tomei da pena

Impregnada de tinta carmim,

Á desenhar no papiro marfim.

Com letras cuidadosas,

Rebuscadas, n´alma buscadas,

Falei de amor,

Disse sobre voce.

Despatelei a flor,

Rosa vermelha,

Lírio do campo,

Doce centelha

a escorrer mel silvestre,

Da sua beleza insinuante,

Dos seus cabelos agrestes,

Seus apelos clamantes,

por um amor impossível.

Menina ainda, mais que linda

estrela da manhã,

Despertar de um astro,

Despontar de um barco,

Despetalar de sentimento,

á cair como lagrímas.

Porque a paixão, atemporal,

por um velho cansado?

Escritor casual,

De sagas, editais, histórias,

existentes só na memória

antiga.

O corpo estigmatizado pelo tempo,

que o vento levará logo, breve...

Guarde esse gostar tão puro, leve-o

para diferente destino, caminho.

Se algum dia, voltar,

Estiver aqui ainda,

As mãos trêmulas,

As vistas quase mortas; tome!

Leve esse pergaminho no peito,

Gravado seu nome,

De ternura feito;

Um jeito de dizer-lhe, querida,

foste o uníco amor de minha vida...