Devaneios
Sinto um palpitar no meu peito ao flutuar em mares nunca navegados
Imergindo na irrealidade da perfeição
Ao ver a hipocrisia destes olhos verdes
Desta pele caucasiana e cabelos dourados
Tão medíocre quanto os outros homens...
Contudo não consigo tirar meus pequenos e frágeis olhos castanhos do teu mar
E me desfaço em lágrimas ao cair de mais uma noite de verão
Esta fria e indolor divergente das outras
Olho a lua de relance pelas venezianas do quarto
E a brisa traz tuas palavras doces de um amargo infinito até mim
Silenciando o meu choro e pondo-me em devaneios até mais um amanhecer
Logo corro novamente pro teu mar, revendo teu sorriso.
Este inferno de amar-te!
E por mais uma vez tudo ao meu redor fugia, espairecia.
Refugiava-me em mais um olhar casual
Esquartejada em fantasias de amor
Um prazer incessante num devaneio de desejos
E eu acabara por encontrar-me em meu próprio ermo como todos os dias
Exaltando a cada movimento teu
Exalando teu perfume barato
Deleitando-me a cada onda ida e vinda do teu mar
Arrastando memórias do passado
Nossos belos e doces deletérios
Novamente escondida por faces
Ante mim mesma
A sombra de um vulto qualquer, um vulto de uma mulher.
A perdição, a tentação do mesmo vermelho escarlate e das pernas desnudas.
Ruborizada entre festos de seda
Despindo-me da tua beleza e revelando esta face enigmática
Correndo pros teus braços, tendo-te todos os dias como um cão voraz e insaciável.
Mediocremente escondida por tua face nua, crua.
Vendo-me em ti, nas rochas, no sal e no Sol.
Assim exasperada...
Tua saliva escorre pela minha boca e sinto teus lábios roçarem os meus
E subitamente desperto de mais um devaneio
Delirando pelo mesmo esverdeado do teu olhar
Reconstruindo fragmentos pressentidos no devanear.
Queria eu ter-te por uma única vez
E dar-te um adeus súbito para não mais amar
Retornando a solidão de dantes
Às luas vistas de minhas venezianas
Às lágrimas
Ao teu fel
Ao frio imposto pela tua pele, pelo vento a bagunçar teus cabelos dourados.
Retornando ao longínquo verde dos teus olhos
Ao teu amor
Ao inferno prazeroso de amar-te
À novamente navegar por teu mar
E navegar, navegar...
Devaneando por tua perfeição.