MEUS JARDINS

Nos meus jardins sem lucrativos fins,

não há cruéis sombras nem destrutivas bombas.

Não há estéreis algazarras de arromba,

nem alienantes e carnavalescos festins.

Há rosas, violetas, lírios, girassóis, jasmins.

Há sonhos, poesia, vôos, ousadia, lembranças, nostalgia.

Há vozes sábias e atentos ouvidos, artes originais e infinitos livros.

Há girafas, golfinhos, corujas, porquinhos, gatos, esquilos,

ninhos e passarinhos, cisnes e laguinhos, ovelhas e filhotinhos.

Mortos e vivos, silêncio e música, ventos e brisas.

Nos meus jardins sem lucrativos fins,

Não há cavaleiros andantes nem donzelas desesperantes.

Há crianças anciãs e anões gigantes, velhos e velhas confiantes,

Mulheres pensantes e empolgantes, homens sensíveis e cativantes.

Gente extraordinária e simples, de alma grande.

Nos meus jardins sem lucrativos fins,

não há ervas daninhas, nem tédio, nem simplistas ladainhas,

nem teias de mentira, nem risos tristes de Mona Lisa.

Há pierrôs e colombinas, beija-flores e margaridas.

Um pouco de dor, um pouco de alegria.

Não há piadas sem gosto nem olhares insossos.

Não há discursos mornos nem mentes que aceitem subornos.

Há idiotas calados, arrogantes destronados, canalhas condenados,

egoístas ignorados, sofismas e perfídias desmascarados.

E a Árvore da Verdade cultivada ao centro.

E por todos os lados, frutos de liberdade, flores de humildade,

sinceridade plantada e adubada corações adentro.

Sementes de ternura na terra e na água.

Sabores de delícias invadindo o paladar.

Perfumes das alturas espalhados pelo ar.

Amigas e amigos convidados para o chá.

Nos meus jardins sem lucrativos fins...