Peso adocicado

Estranha qualquer tentativa de elucidar

Estrangeira é a forma desse ensaio

Vê-se imperiosa rápido articular

Não agüenta mais - tão Bela - calar

Há um peso adocicado em suas costas

Não arreda pé posse ou lugar

Atende essa garota orgulhosa

Impedindo-a de notar como o largar

Há um peso adocicado em suas costas

Frente a algo quase não esquecido

Intrusa prerrogativa perdura do passado

Remoendo tantos anos desajustados

É um peso estranho de explicar

É um peso estranho de sentir

Ela o reconhece como um peso adocicado

Sua grande dificuldade: Deixá-lo de lado

Peregrina caminha por sua extensa alameda

Avança a passos longos e compridos

Deleita-se no gosto desgastado - seu paladar

Não descobriu, todavia, como agir como evitar

Procura formas e formas de expulsá-lo

Vê-se arranhando os próprios calcanhares

Equilibrada em suas sandálias de salto alto

Alcança os mínimos e maiores lugares

É o peso adocicado das suas costas

Suplicando, ambicionando continuar

Pela manhã estrondosamente, na sua frente, gritou:

- Irei embora somente à minha hora!

Largou as sandálias e agora pisa na areia molhada

Agatanhou as solas dos pés cândidos delicados

Todavia, não sentiu dor - há até um pequeno rumor

“O peso adocicado tem lá um forasteiro sabor”

Dissimulado, esse danado, não disfarça mais

Intrometido, o velado, nem pede licença

Indiscreto, tal safado, chega a qualquer hora

Arredio desvairado louco a namora

Tornou-se deveras mal-educado

Mantém-se principiando nada gentil

Tampouco guardou o que lhe era afável

Maldição perdeu o doce ar da dor pueril

Cansada bem mais que enamorada

Decidiu resoluta removê-lo – ainda paira certo temor

Precipício abaixo há de arremessá-lo

Aspira vê-lo só, bem longe, devastado

Agarra-o, maneja-o com destreza

Despenhadeiro abaixo o impele – pura certeza

Com a força de mulher madura a execrar

Deseja sua alegre tristeza – por fim - serenar

Nesse momento Isa pisa na calçada

Retrai-se um pouco meio desamparada

Ignora, não pensa, segue abençoada

O peso adocicado transformou-se em nada

Agora persegue acompanhada seu caminho

Apaziguada - atenta - menos desalinho

Forte e serenizada

Tranqüila mais adocicada

Enxerga adiante o mundo que se abre

Abraça-o com energia abstrata

Pede exílio para ela mais o pequenino

Tão senhora, tão exata

Dá partida sossegada.