REMINISCÊNCIAS

Reminiscências

Hoje retornei à cidade-menina,

onde os igarapés guardavam escamas

e teus filhos, frutos de vastas ramas,

brincavam em tuas águas cristalinas.

Fui a Matriz onde dobravam os sinos

– Guardiã do barranco e do grande rio –

Santuário de nossa Mãe plena de brio,

que aos domingos trovejavam hinos.

Em meu rosto o vento da saudade

soprou-me os verdes da paisagem

e os enfeites da bruma da roupagem

que vestia a antiga e pacata cidade.

Na velha Laje da escadaria do porto,

escutei o soar de um famoso e alegre apito.

Era o comandante Altino (um mito)

com o seu Velho Chico – um tanto torto!

Visitei a casa que me viu menino...

À mesa: o peixe assado, o cozido e o pirão.

E as flores de mamãe plantadas no chão

elevaram-me o espírito ao Divino.

Lá fora, as cantigas de roda enluarada

musicavam as brincadeiras de amarelinha,

boca de forno, ciranda, manja e bolinha,

enquanto dormitava o grito da passarada.

No mês das quadrilhas e fogueiras,

os cordões folclóricos da Garça, do Barqueiro,

do Tangará, do Boi de rua e de terreiro

faziam dançar até as folhas das seringueiras!

Ah, quanta saudade, quanta alegria!

Até a velha rede que tanto me embalou

ainda estava atada quando mamãe me beijou

e foi rezar comigo a novena dessa história.

Fonte Boa, com alegria revivi em santidade,

o intenso carinho e o afago do teu abraço,

e, hoje, acolhido no calor do teu mormaço,

saúdo aqui, a lembrança de ti, com felicidade.

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 24/11/2016
Reeditado em 04/02/2022
Código do texto: T5833525
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