E o Samba Não Morreu
Eu escreveria um samba
Mesmo não sabendo sambar
Tão bem assim
Que não rimasse nada
Que se pusesse a atravessar
Essa vida enrolada
Como as serpentinas
Que caem em mim
Procurarei a mesma alegria
Em todos os cantos do salão
Essa simples fantasia
Que transforma em folião
Um simples desocupado,
Um pequeno poeta atrasado
Um malandro de profissão
Aqui no Rio de Janeiro
Muito do samba morreu
Muito do samba acabou
O morro que era feito de samba
Num "funk" pirata findou
Mas, contrariando a previsão
O samba não morreu inteiro
Nem deu o batuque derradeiro
Num desfile na televisão
Ainda tem gente boa
Ainda tem gente legal
Procure andando na rua
Nos dias de carnaval
Nos blocos com gente jovem
Nas bandas com alegria
Na batida de seus corações
O que é que lhes contagia?
É a lembrança de um tempo
Em que antes dos tiroteios
E das balas perdidas
Cantavam-se os devaneios
E alegrias da vida
Era o samba mais inocente
Pixinguinha em seu terreiro
Eram o retrato da gente
desse Rio de Janeiro
E o samba não morreu
E o samba não acabou
Mas muita gente correu
E outra gente chegou...
Sambando entre as incertezas,
Vem a pergunta fundamental
Não é de alegria e tristezas?
Que é feito um carnaval?