ANCESTRALIDADE - Um poema para dia da abolição.
Minha bisavó
veio de Moçambique
para a Bahia,
em viagem de tumbeiro.
Minha bisavó, Joaquina,
nome branco que lhe deram,
falava língua
que branco não entendia,
mandingueira,
candongueira,
mesmo cativa,
consolava seu povo,
transformava a dor em alegria.
Minha bisavó,
em noites fugidas do eito,
debaixo de um Baobá,
no meio do cacaueiro,
virava no santo,
a meter medo,
até no senhor,
que se dizia barão e guerreiro.
Minha bisavó
receitava chás,
prescrevia banhos,
benzia quebrantos,
fazia rolar os búzios,
sob as luzes de Ifá,
era "cavalo" de Obá,
dama negra,
de alma negra.
Minha bisavó
morreu de velha,
largada em seu canto,
junto ao seu gongá,
mais de cem anos:
- isso, o que ouvi contar...
-por José Luiz de Sousa Santos, bisneto de Joaquina, em 09/11 maio de 2017, em resposta ao poema que me foi dedicado, pelo poeta moçambicano, Britos Batista -