RIOS DE MINHAS LEMBRANÇAS
(A querida Helora Oliveira)
Nos rios das lembranças,
em águas claras de risos,
banzeira minha infância
debruçada em flores...
As espumas de saudades
sob a quilha da velha canoa
descortina-te, Fonte Boa,
da fina névoa do tempo
que o sentimento entoa!
Da proa do Velho Chico
avisto a escadaria do porto
e a Lage que dava conforto
e abrigo ao povo de boa-fé:
No campo do Arigozinho
rememoro a infante idade,
o amor secreto à deidade
agasalhado no bauzinho
singelo da doce memória!
Tal qual, à flor-do-dia,
o apreciar do pôr-do-sol
e a primeira flor de girassol
nascida à beira do barranco.
No Igarapé da Arapanca,
Leonardo, Estrada e Celetra
nadávamos sem ser penetra
nas gélidas águas do reino
das ninfas do Cajaraí!
Só recordo com pesar
a rede acima do paneiro
o lenço branco derradeiro
estendido em despedida.
As luzes se apequenando
e o barco singrando o rio
deixando para trás, o brio
de tuas noites de estrelas
que cintilavam meus prantos.
A distância não esmoreceu
apenas fortaleceu o amor,
impregnado na seiva do ardor
de todas minhas lembranças...
Nos rios primaveris do destino
a bordo da igarité de sonhos
logo atracarei teus portos risonhos,
e deles jamais me desgarrarei
como no pretérito tristonho!
(Manaus/AM), noite de Carnaval, 03 de março de 2014.