FERVER DE ARDOR
em alguém algo está a acontecer
longe do olhar e quase que da compreensão
o hipotálamo é o mesmo que um vulcão,
em outro alguém o mesmo está a acontecer
foi a visão, o cheiro, a aproximação
é o diencéfalo a prevalecer,
em ordenamento único
em quantidades dispares
em intensidade difusa,
correm
a feniletilamina
a dopamina
a ocitocina
a dopamina
a serotonina
antes de saber disto, eu dizia que era questão da “mina”
e ela falava que dependia do “cara”
não da testosterona
dos estímulos visuais
das fantasias
das emoções
do conhecimento.
agora sabemos que sabemos
por que não gozamos tanto?
porque somos tontos
levamos para a cama a prova de geografia
rolamos sobre o extrato da conta bancária
a nossa posição preferida é o sofá à frente da tv
querida, não esqueço o meu patrão
amor, seu filho hoje disse um palavrão
o carro quebrou
o seguro venceu
a pia está entupida
a banda larga encolheu
um artista morreu
um turista se perdeu
esfriou nos trópicos
amanheceu nos pólos
e este maldito orgasmo que não vem...
a poesia?
a poesia meu bem
está nas mãos sobre a pele
é a língua que queima
o olhar que incendeia
a labareda do beijo
a chama da paixão
ferver de ardor e morrer
la petite mort
e ir direto para o inferno
onde o fogo é eterno.