HOMENAGEM A AUGUSTO BOAL
A essência da minha poesia
é o Kaos
é o não
é ninguém
é a total ausência de propósito.
Não pense que ela é depósito
de insultos
protestos
padecimentos
ou desilusão.
Faço poesia
para exaltar a desordem
a inconformidade
a infelicidade
ornada de confetes e serpentinas
pisoteadas a cada esquina.
Venham todos
todos à rua
desvestir a verdade
travestir as convicções apodrecidas
subverter a subversão
semear inquietude em cada coração.
Venham
gritem
espantem-se
nada é o que parece
toda esperança
na falsa paz acalentada
nasceu do ventre do autoritarismo
e da mais sórdida imposição.
Venham
junto com as cinzas
que a chuva transformou em lama
rasguemos todas as fantasias
dancemos na ventania
cantemos músicas desafinadas
sem saber suas letras e melodias
mergulhemos no seco oceano
dos nossos sonhos desconhecidos
e distante do próprio umbigo
apesar de todo o perigo
ir de encontro à parede
da inefável liberdade de Ser.
- por JL Semeador, ao saber da morte de Augusto Boal, no final do carnaval, em 25/02/2009 -