... LAMÚRIAS
Nunca tive um amor verdadeiro!
Um amor desses de contos de fadas,
que faz brilhar as intensas madrugadas
com as cores e o clarão do luzeiro.
Também não brotou-me aqueles ouvidos
capazes de ouvir as distantes estrelas!
E sem o louco amor para entendê-las
combali-me em sôfregos castigos.
Guardo no velho paneiro de lamentos
as flores murchas e os frutos amargos,
os segredos naufragados em rios largos
sob a lama fúnebre de meus tormentos.
Só me resta, na tristeza maviosa e pura,
esperar a morte vir beijar-me o lívido rosto,
roubando a fragrância do desgosto
da minha última rosa-flor de candura!
In: LINS, Eylan. GIRASSÓIS (DI)VERSOS e Outras Flores, 2022.