BICHOS, BRASIL E TRAGÉDIAS

BICHOS, BRASIL E TRAGÉDIAS

 

No dorso do búfalo há carrapato,

Mas vem bem-ti-vi pra limpar,

E as aves canoras riem do pato,

Que vive grasnando sem cantar.

 

Lá no campo tudo é sério,

Pois reina a regra do sobreviver,

E não importa o que é mistério,

Vai ter macaco a rir de morrer.

 

Se for no Brasil, eu terei sariguê,

Mas cada savana será dos leões,

E no Pantanal tuiuiú hei de ver,

Ou os desertos de outras nações.

 

Cada parte da Terra é casa própria,

Mas as diferenças estão a vingar,

Pois temos no solo a nossa história,

Que faz construir a cabana ou bar.

 

Em algum lugar teremos toupeira,

E cada madeira o cupim vem jantar,

Mas o tamanduá quer vê-lo na ceia,

Enquanto as abelhas estão a voar.

 

Um dia eu plantei muitas melancias,

Mas também havia um lobo guará,

E quando irrigava de noite e de dia,

Vinham suas crias os frutos furar.

 

Também rastejavam as surucucus,

E nem vou falar de cruéis cascavéis,

Que não gostavam nem de urubus,

Pois apimentam até meus pastéis.

 

E foi nessa sina que agiu Lampião,

Como viveu o Zumbi dos Palmares,

Mas foi Conselheiro e não Capitão,

Que teve casa explodindo nos ares.

 

É tanta tragédia em nosso Brasil,

Que não me vejo ser cabo de tropa,

Mesmo só tendo um prato vazio,

Ter liberdade é o que me importa.

 

Há sempre mil golpes por ano,

Porque cada rico só quer para si,

E culpam a China ou um cubano,

Na cantilena que faz boi dormir.