ÁGUIA

(ao som de kipexi*)

A águia abre as asas, ronda o horizonte e o rio grande!

Das chanas ao prado, do prado à florestada savana

O capim e as árvores de folhas caducas dão por si

Quando ela faz feitiço —

E o sol é tufo de plumas amarelas ocultando-se

No charco da encosta, junto aos bichos aquáticos

Que agora soltam brados do mais profundo temor

Provocado pela ânsia nas entranhas

Malgrado isto

O gato do mato caturrou em não sair de casa

E andou a esmo por aí como que chamando a campo

No cimo, a caçadora volante é dona d’ abóbada nublada

Marcando o ar com seu bico de aço –

A mesma é Dona de baixas e montanhas

Esse pragal todo é seu reino coutado, o rio também!

Súbito, naquela ocasião tão azada quanto inesperada

Ela desce das nuvens em forma de relâmpago escarlate

Ao viés

Em pânico, o gato enveredou por um caminho errado

E logo foi levado pelas garras mortíferas

Kalunga* me defenda—

O sonho rebentou-se-lhe nos olhos em pleno dia

A terra assustou-se e a gente toda arrepiou-se de pasmo!

Kalunga = divindade que preside a morte

Escrito em Kimbundu e traduzido para português por o autor.