Carta do Silêncio perpétuo
Deixe me voar
Sentir o vento
Minha face tocar...
Deixe me guardar
Só este sonho
Um momento
Para eu me lembrar
Para quando eu
começar esquecer
Que um dia humano
Eu vim a ser...
Quero lembrar
Do sabor
de conhaque
Do gosto da calçada
Onde tombei
Por amor
Posso me esquecer
Do idioma, porém,
nunca das poesias
Das rimas, versos
E seus aromas
Deixo tudo para trás
Nem uma mala
Nem um amigo
Levo comigo
Só os grãos de poeiras,
Pois neles
Terei pelo eterno
Uma biblioteca
De bons malditos
Diversos versos
Fotos de meus
queridos e todo
Aroma descrito
De belas flores
E grandes amores
No coração
que se definha
Levarei escrita
em sangue,
muitos vícios
e sicatrizes
E uma cola
de nicotina no pulmão
Aí... da boemia!
Nos becos
mal cherosas,
com música alta,
cheio de putas e jogatina
Já me atormenta
As saudades
De minha humanidade
Cheia de juventude
E tantas vaidades
Que a censura
Calou!
E a 7 palmos
Paro o exílio
Me mandou...
Me condenando
A fazer poesia
No maldito silêncio
Perpétuo....
Então deixe me voar
Como um pássaro
Vagabundo...
Pois não preciso
de matéria para fazer
Poesia...
Não necessito
De vocalizar
Para propagar
Digo como maldito
Que sou, nos átomos do silêncio
Meu verso se alastrou.