Noite de Luar
Noite de Luar
(Você já viu a lua hoje?)
“Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão. ”
(Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco, Luar do Sertão)
Quando, após o poente, o Criador,
De posse do seu divino cinzel,
Esculpe a face da noite no céu,
Eu, em estado de graça, de louvor,
Diante da minha janela,
Contemplo a aquarela,
A sublime e misteriosa criatura,
Que perante os olhos se emoldura
Pelas mãos do mais belo escultor.
Me sinto plenamente radiante,
Pois sei que não estou só.
Mesmo com a partida do sol
Em viagem para bem distante da minha rua,
Vejo-me, agora, feliz, esfuziante,
Na companhia da Deusa que ora se insinua.
Ao mirar o celeste firmamento,
Sob o manto pontilhado por estrelas,
Num frêmito cintilante de centelhas,
Deixo-me vagar o pensamento.
Ele me conduz, me transporta.
Abre-se uma majestosa porta
E nas instâncias e distâncias da minha imaginação
Vou com ela encontrar o São Jorge e o seu dragão.
Vou ver de perto os astronautas,
O sonho dos lendários argonautas
A diva dos poetas, cantores, namorados
Que a todos inspira, emociona e seduz
Num trilho mágico de magia e de luz
Que deixa os corações mais iluminados.
Como é lindo para ela olhar
E sonhando permitir-me explorar:
Todas as suas ocultas faces
Todas as periódicas fases:
Crescente, Nova,
Minguante e Cheia,
Espetáculo que se renova
A estender seu tapete no mar
E repousar no travesseiro de areia.
Ela é simplesmente o paraíso encantado,
Galopando do espaço, nos corcéis.
A viagem de mel de todo recém-casado.
A rainha, soberana, das marés.
Ah, maravilhosa expressão do universo,
Nosso único satélite natural
Que reina, imponente, obra-prima
Criação tão monumental
Que nem a mais formosa rima
Em sua plenitude consegue exprimir
Que nem o mais formoso verso
Toda a sua beleza consegue traduzir.
Quando todo o dia
Se aproxima o instante
Dela finalmente surgir,
Exalando uma volúpia,
Que a minha pele arrepia,
De uma forma tão dúbia
Que vem me possuir,
Em me entrego, enfim
A um prazer que não tem fim.
Esta é, pois, a minha fantasia
Algo que extrapola esta poesia
Um desejo de tê-la, toda nua,
Em meus braços, ó amada lua!
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
28 de maio de 2018