Cheiro de Infância
Embaixo do pé de laranja
eu vivi os melhores anos de minha vida.
Sentávamos, aproveitando a sombra,
nossa cúmplice, que ouvia nossas histórias,
nossas piadas e brincadeiras.
Éramos crianças, e como tal,
despreocupadas com o resto do mundo.
Porque para nós, o mundo também era criança.
E nossas pieguices, permitiam rir e sorrir
brincar e sonhar no quintal de terra vermelha
fuçando no toco das árvores, lavando os pés no riacho.
Lembro da gritaria quando soava o chamado para o almoço
via-se o alvoroço dos cães farejando
o aroma do feijão com linguiça e louro...
Das batatinhas fritas na hora...
No fogão fumegando, as panelas recheadas
da melhor comida que comi em toda a minha vida.
No pomar, encontro com a sobremesa
fruta do pé, doces em compotas.
A tarde passava, e com ela as pipas,
o esconde-esconde, a amarelinha...
Ah, o cheiro de sonho com creme...
Que saudades!
- "Olha a revoada" - gritava vovô.
Eram as andorinhas que pintavam o céu de azul
matizado pelas cores quentes do por do sol
mais bonito que já pude contemplar.
E no alpendre as vozes alegres trazidas pela brisa.
Vozes que hoje já não ouço mais
perderam-se no tempo, no espaço,
no infinito...
Vozes veladas e amadas
de pessoas queridas que fizeram parte da minha história.
Das minhas tardes,
das tardes da minha infância
embaixo do pé de laranja.