A SAGA DO SACI
(Samuel da Mata)


Com uma perna só nasceu
Mas mesmo assim feliz viveu
Até que aos bípedes conheceu
E a confiança em si desapareceu

Vazio e só, já não parando em pé
Buscava veemente a si completar
De perna em perna, olhava com fé
Sua perna gêmea haveria de achar

Por fim, uma linda perna lhe apareceu
Bronzeada ao sol, torneada e esbelta
Por certo era um presente de Zeus
De que jornada vinha não interessa

Caminharam juntas, assumiram a empreita
Até que a estrada íngreme se tornou
Ali a perna destra mostrou não ser direita
E sem aviso prévio a marcha abandonou

Saci, em agonia, vê a ilusão cair por terra
Saudades dos tempos em que saltitava só
Mas dono de seu próprio destino ele era
Maldita a hora em que prendeu-se ao xodó

Revolto e triste, já sem ter mais o quer perder
Enche-se da coragem de quem ainda quer viver
E ignorando a dor que uma incisão lhe causará
Arranca num só golpe a perna e volta a saltitar
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 23/01/2014
Reeditado em 06/09/2015
Código do texto: T4662213
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