LUVAS DE CETIM
(Samuel da Mata)
Depois de meses na enfermaria
A velha por fim agonizava
Dilacerada em dor, gemia
Porém nada mais ela falava
Não que a sua voz tivesse acabado
Ou que não se lembrasse mais das falas
É que sagradas eram as vozes do passado
E não queria vê-las agora perturbadas
Gemia assim, triste e sozinha,
Não mais clamando a dor da morte
Mas por ver, assim, quão mesquinha
Podia ser a vida em sua sorte
Mãe dedicada de oito filhos
Todos em lágrimas e dor criados
Mas dela há muito, já todos esquecidos
E por seus próprios destinos obcecados
Foi quando por fim ouviu a enfermeira
- Chega-te aqui Senhora, até a cabeceira
Dê a ela a sua mão neste último momento
Será por certo um bálsamo ao sofrimento
Num esforço final, a velha disse com voz turva
Eu quero é a sua mão, por favor, retire a luva
Depois clamou por fim: Esta mão não é Maria
A mão dela, eu lembro, tinha alma e eu sentia
(Samuel da Mata)
Depois de meses na enfermaria
A velha por fim agonizava
Dilacerada em dor, gemia
Porém nada mais ela falava
Não que a sua voz tivesse acabado
Ou que não se lembrasse mais das falas
É que sagradas eram as vozes do passado
E não queria vê-las agora perturbadas
Gemia assim, triste e sozinha,
Não mais clamando a dor da morte
Mas por ver, assim, quão mesquinha
Podia ser a vida em sua sorte
Mãe dedicada de oito filhos
Todos em lágrimas e dor criados
Mas dela há muito, já todos esquecidos
E por seus próprios destinos obcecados
Foi quando por fim ouviu a enfermeira
- Chega-te aqui Senhora, até a cabeceira
Dê a ela a sua mão neste último momento
Será por certo um bálsamo ao sofrimento
Num esforço final, a velha disse com voz turva
Eu quero é a sua mão, por favor, retire a luva
Depois clamou por fim: Esta mão não é Maria
A mão dela, eu lembro, tinha alma e eu sentia