Anjo de Ninguem
Sombra sem vida, da vida esquecida,
Pura como o seio da mãe que não tem,
Doce como os beijos que nunca ganhou,
Feliz como o sorriso que nunca sorriu!
Cabelos emaranhados como o emaranhado cenário,
Louros como as ondas dos trigais que não conhece.
Suaves como a lua das noites dormidas na rua,
Brilhantes como a chuva que a molha nas calçadas.
Quentes como as lágrimas que se esgotaram!
Braços finos que aconchegam,
como o sonhado abraço que nunca lhe deram.
Mãos carinhosas
como as mãos que nunca lhe foram estendidas!
Colo que aquece
como a coberta que no frio, não tem!
Voz silenciosa de anjo;
como a dos anjos que a esqueceram!
Ternura perdida na sarjeta semi-nua!
Realidade crua,
menina de rua de um mundo insano!
Não é cinderela e nem conhece ela.
É um anjo de ninguém;
boneca de pano!
João Braga Neto
(Livro Caminhos da Alma)