Luiza, Laura e Laurinda

Encontro-me com ela

Pequeno começo estabeleço

Um momento a sós – só nosso -

Junto à esquina daquele farol

Brigadeiro com Consolação.

" Tamanha indiscrição a sua

Meta-se com tua vida

Prurida fantasia modesta e fria

Pequena prolongada

Nada refinada."

Bota medo, bem sei

Àqueles que ainda não foram

Correm o risco de perderem-se

Pelas vilas lidas ladainhas.

- Ignora,

Típico de gente

Bem gentinha

Quase um nada

Um nadinha.

Encontro-me com ela

Estabelecemos outro momento – só nosso -

Eu a pedir - Roga por ti

Quanto a mim, esqueça

O momento abençoado é todo teu

Trague-o

Por mim não desafies nenhum rancor

Não atormente

Nem transforme

Veste-se de seu minúsculo pudor.

Diferente do começo, lembro bem

Principiou tão curiosa quanto banal

Na cara espelhava

Transtorno ventania vendaval

-Mas é ela quem se levanta

À noite, pra fazer o mal?

- Que mal?

Por isso deixou-a assim,

Perplexa, sozinha amedrontada

Numa rua pequena encruzilhada

Maleta em punho empunhada?

Saiba, foi naquele momento

Viu-se inteira

Aos pés do chão abandonada

Diferente dos becos das tuas ruelas

Desafiando teus ecos pela goela

Alegoria de gente,

Bem gentinha

Chorando calada sozinha

Sem pensar em melhorar

Ser melhorzinha.

Nesse momento

Dói-lhe a barriga a cabeça

Suas mãos denunciam medo

Os pés estão úmidos gelados

Grudados ao lado do pequeno coração roubado.

Mas é na garganta da minha canção

Que te vejo na contramão

Diriam, tens aí uma canção vestida

Encontrada justamente pela menina desavisada

Durante sua estreita estadia.

Novo encontro estabelecem

Fez-se outro momento a sós - mais um entre nós -

Melhor se comparado aos outros

Outrora denunciados

Há até um pequeno luar na saia bem guardado.

Viu-se na tua lua esbranquiçada

De pó empoeirada

De calma acalmada

De azul bem azulada.

Fizeram-na podre sem calor

Teimosa em adormecer durante o dia

E acordar somente nas madrugadas

Recorda-te,

Em minhas mãos permeiam suas mãos vazias.

Roga perdão

- Implora ao teu coração!

Mais uma vez elas se encontram

Novo momento - outro a sós -

Duas confusas, tal como nós.

- Cuida,

Há vômito na geladeira

De pó tanta poeira

- Repara,

Recebestes um luar esbranquiçado

A ti todo doado

Enquanto não me acostumo

Eu retardo.

Sei que mereço menos do que já faz

Mas há espaço

Doa-te um pouco mais.

Com tua lua luazinha - branca esbranquiçadinha

De calor acalorada

De medo amedrontada

De branco enviesado

Eu? Louvo o preto ao cinza avivado.

Teu pequeno medo tornou-se desajustado

Transformou-se em choro desavergonhado

Chora bem

Chora calado

Choro imundo

Empoeirado.

Lá, na beira, mar estiva tua dor

Por pouco, quase nada,

Não te dou outro valor.

Por menos, fiz-me sozinha

Correndo pelas calçadas

Os pés descalços

As havaianas largadas.

Imploro teu ponto final

Abono o momento abjeto

Soubesse, juro,

Percorria contigo outro trajeto.

- Mas e dela, alguém ainda se lembra?

Perdeu-se, foi embora

Levou as sobras mal agouradas

Roga paz recebe nada

Pede amor simulam paixão

Quanto a mim penso em suicídio

Por outro lado, hei de confessar,

Por ela morreria sem nada carregar

Só assim ,entre nós, outro momento haveria.

Mas,é em teu destino que ela se faz febril...

- Agora não!

Cala

Ouve a poesia - pequeno regalo -

Atirado na sala pelo hall de entrada.

Pelas brechas ainda te vejo rodopiar

Rodopias curto bem devagar

Pena, a partir desse momento não te vejo mais

Acabou, maltratastes minha imunda paz.

Dividida fico eu como miolo de jornal

Nado na chuva desavergonhada

Procuro um caminho seco

Mas só vejo o da frente largueado

A neblina? Tempestade baixou

Abriga-me e pensa

Encara tua efêmera dor?

A mim, sei, doaria um coração embalsamado

De desapego desapegado

Não anseie galanteios, não por hora,

Esse momento é dessa senhora.

Mesmo sem alimento e sem cozinha

Ainda é de cata-vento

- Venta a vadia -

Agora, menos enjaulada

É noite, não parou de dia

- Vai menina

Descansa sossegada

Fico a espiar tuas passadas

Ouço ranger os dentes, confusa

Faço deles suave melodia

A parte que faltava

Da minha biografia não autorizada.

- Ei-lo

Está morto

Decompôs-se

Puro desgosto

Ao acordar

Levanta-te logo

Procura tua cama

Mamãe aflita cedo te chama

Em desespero há de gritar

- Levaram teu corpo

Não se sabe ainda quem.

Novamente sozinha

Procuro um outro raro e velho bem

- Ei-lo

Morto amortecido

Quieto encarecido

Feito anjo louro endiabrado.

Resta agora seu som sobre o meu

Essa, já não sou mais eu

Fiz-me alvo de ninguém.

Tornei-me refém.

- Ei-la

Está viva e embalada

Pela preguiça amparada

Despida e embebida

Coitada, rechaça.

Rezou,

Chorou,

Cremou o corpo nu

Disso tudo fez um culto.

Jaz morto,

Não alivia dor

De quem nasceu atravessado

De lado, quase um finado,

Digno como qualquer outro rejeitado.

- Espera,

Não terminei

Cuspiu no retrato da própria filha

À sua propriedade agora reduzida.

Nada mais a abala

Segue quieta perante a ida

Alcançou

Com laço laçou

Arrematou

Apoderou-se

De sua corrente sangüínea.

Como és bela,

Melhor, fez-se linda!