deus
Asseveraram-me que tu existes
Asseveraram-me que tu acalantas os corações amargurados
Asseveraram-me que tu apaziguas as mentes cansadas
Disseram-me até que tu serenas as dores
Dos que são fortes e dos que são fracos.
Todos os dias
Falam muito em teu nome
Chamam-te, rogam-te, enunciam-te
Quanto a mim
Não sei como te invocar
Não te conheço
Nunca te vi
Nem sei mesmo qual é o teu lugar.
No meu pescoço
Carrego um adorno
Daquele que disse um dia
Ser a tua cria.
- Não consigo retirar –
Essas sentenças cortam a minha pele
Essas sentenças afinam o meu sangue
Essas mesmas sentenças
Travam a minha garganta de fala rouca.
Em meus ouvidos
Os sons seguem acorrentados
Em meus ouvidos
Os sons entoam fortes
Ofertando-me um passaporte
Ao mesmo tempo em que
Anelam minha pessoa
Ao mesmo tempo
Em que anelam a minha existência.
Incito tua presença
Se em algum lugar estás
Vem e te apresentas.
Curioso é que diariamente
Algo me desvia
Das armadilhas que me propicio
Curioso é que quando chega a noite
Do mundo o sono me distancia.
Disseram-me que isso – desculpe não sei como denominar -
Que me acalanta
Todos os dias
És tu que me propicias.
Não rio mais
Travei minha boca
Recolhi-me ao concreto
Porque de abstrato
Eu sozinha já me basto.
Faço-te um convite
Se é que tu realmente existes
Venhas me visitar
Falar-te-ei dos meus dias
Que seguem agarrados
À tão poucas alegrias.
Desafio-te
A me conhecer
Porque anseio te avistar
Quem sabe assim
Possa eu em tu acreditar.
Durante essa visita
Tu me contas uma história
Qualquer que seja
Vinda à tua memória
Quem sabe assim
Possas isso para mim
Validar tua aclamada glória.