Inverossímil despautério
OU
quero minha máquina de escrever de volta


                                                                                                 Para a Fada das Letras



I - Infância
Eu que adoro por ter na infância
Vivido POR ENTRE E SOBRE E NOS TRILHOS- o entre
Primeiro por ter morado próximo
E, quase, defronte dum terminal
Ferroviário lá em Jequié,
Em conseqüência do que é
Difícil não lembrar o porquê
Do “sobre”... Atravessava-os
Constantemente indo à busca
Do futebol e, óbvio, dos amigos
Da primeira “namorada” lá nos
Oito, nove anos, namoro de missa,
De matinais de cinema em poltronas
Separadas por “cunhados”...“Intromissas”
Presenças “obrigatórias” já que a dona
Dos enlevos e suspiros tinha a mesma idade....
Jequié à época já era intitulada “Cidade
Do Sol” e para o menino a mais cosmopolita
Do universo de quem ali chegara
Vindo de um lugarejo bem menor
Que merece ser lembrado, mas noutra história
SENÃO EU PERCO O TREM!...
II – Pré-adolescência
Explicados eu dou então já o “entre”
E “sobre” o “nos” é fácil de explicar
Principalmente aos de certa idade...
A barra era pesada sair dos trilhos
Poderia significar entre outras coisas:
Olhares (os mais horrendos), castigos
E algumas vezes as terríveis palavras
De sufixos em “Ada”... Palmadas,
Cintadas, “palmatoadas”
(palavra tão feia e que graças a Deus
Parece erradicada dos dicionários
-pelo menos do “meu” corretor ortográfico
E não vou alimentá-lo com esta m...-
III – A Quarentena de anos
Por isso tudo e por hereditariedade
Deveria ter de forma comportada
Sido MAQUINISTA como meu Avô fora.
-Essa nossa língua?!?! Queria por
Um chapeuzinho neste O como em Avô
Afinal ele, o meu, não dispensava os dois:
O chapéu e o acento. – Outra história –
Em homenagem ao Vinícius,
“... findo estes trâmites...” de retroação
IV – O informatizado menos consciente
Voltemos à questão:
SER MAQUINISTA ou TECLADISTA
(NO SENTIDO mais LATO = d i g i t a d o r).
( “inseridor “ de dedos em tua dor/ferida)
Essas/estas divagações não irão me tirar do sério.
Maquinista passei a limpo
Se é que limpo, são, meus textos
(A esposa e filhas fazem lá suas restrições....)
Letra após letra, dedos contritos,
Quando erravam as teclas
Papel no lixo quando de direito
Borrachas e corretores a postos
E o troar das teclas no silêncio
Mortal das madrugadas
(Sonoro soar para os poetas
E escritores outros, porquanto
Todos foram,-ou são ainda- loucos)
V – O informatizado consciente
Texto por texto digitei, “corrigi”
“salvei” “paginei” “caracterizei”
“colori” (não no vermelho e preto
Antiquado, o fiz com a policromia
(Que achei conveniente), “inseri imagens”
(as mais diversas em algumas até pensei em
Mulheres (peladas), “inseri músicas”
(poderia contemplá-los com eróticas),
“armazenei” em fitas cassetes, disquetes
-grandes e pequenos- e, ultimamente...
CDs, DVDs e óbvio na net...
VI – O informatizado decepcionado
Isto posto fui recuperar alguns
Para o Recanto, para meu espanto
Os das gavetas estavam embolorados;
Os dos cassetes já nada “tocavam”;
Os dos disquetes, irrecuperáveis;
Infelizmente poucos em CDs, DVDs e net
VII – O escritor precavido
Os melhores conservados em livretos
Cinco a oito, aqui agora já nem sei ao certo
De seis dou conta, todos bem impressos
Em meia lauda como convém
Ao prelo de qualquer um (ou do sonhado) livro
VIII – O informatizado/escritor decepcionado
Qual o quê!... O scanner pra sacanear
Põe hieróglifos no que já não tinha valia
Sob “alegação” de que caracteres scripts
Não são bem vindos. P... Bem feito
IX – O maquinista redivivo
Por ter abandonado por ter deixado
Abandonada, enferrujando-se e de lado
A mais antiga e fiel amiga:
- A MINHA MÁQUINA DE ESCREVER!...
X – O sonhador ginasta
Chorar é malhar em ferro frio?
Será que é? Vou comprar uma
Em qualquer estado de conservação
Para “malhar” os dedos.
E voltar a compor serenatas
madrugadas a fora...