Sabiá-Laranjeira
A Sabiá-Laranjeira
Com sua barriga ferrugem
Formidável sua penugem
Que pousou altaneira
No quintal da minha irmã
Passeou pelos canteiros
Que o vento fazia inquietos
Catou aqui e ali alguns insetos,
Parou algumas vezes e olhou
Do alto de seu belo porte
E quando assim quis, voou.
Pensei num episódio passado
Há exatos trinta anos
No quintal, meu pai animado
Uma sabiá em seus planos
A arapuca armada capturou
Um prêmio que ele esperava
A arapuca ele desarmou
E a sabiá eu segurava,
Mas por acaso ela voou.
Mesmo sendo meu pai
Passarinheiro de profissão
Naquele dia sem um ai,
Nem qualquer tipo de lição
Ou briga, ou repreensão,
Olhou a sabiá ir-se embora
Respirou um pouco mais fundo
Riu comigo e me deixou vê-la
Em liberdade ganhar o mundo.
Ali aprendi que mesmo quem erra,
Mas busca acertar de verdade,
Dá chance aos sentimentos
De assim como os sabiás
Mesmo que não tão belos,
Com peitos vermelho-amarelos,
Voarem em liberdade
Como voava um,
Em uma manhã azul
Há trinta anos atrás.