FILHOS DA NATUREZA
Dois passarinhos, empertigados,
para fazerem seu ninho, lutam
por um raminho, de uma qualquer
árvore, quiçá, longínqua, do lugar
onde vos estou narrando esta
bucólica cena, em toda a sua
beleza natural…
Não é uma luta assumida, apenas
prevalece a vontade, do mais cioso
dos dois, em levar para junto de sua
companheira, mais um prémio, que
vá guarnecer a casinha, que irá
acolher seus filhotes, nesta primavera.
Cabe a ela depositar os materiais, onde
julga mais preciso, fruto da experiência
de outros anos. Enquanto numa azáfama,
que chega a cansar só de ver, o macho
não pára, de cá para lá, buscando pauzinhos
e folhas, algum musgo, para receber bem
a nova família, no cimo da árvore predilecta.
Ele canta, contente com seu trabalho, como
que pressentindo, que o está a fazer de
boa poda. E quando se achega à parceira,
cansada, não se esquece de lhe trazer algo
que comer, enquanto ela freneticamente bate
as asitas e abre bem o bico, exigindo-lhe o
manjar desejado, pelo esforço empreendedor.
Por fim dão por terminado o ninho, bem
aprumado e acolhedor, e, logo, surgem os
primeiros ovinhos, enquanto ele observa tudo,
num ramo mais acima, auscultando o
horizonte, com lampejos laranja, anunciando
o entardecer e uma noite de vigília constante.
Entretanto quatro saudáveis passarinhos nascem,
piando sem parar, pedindo comida e atenção.
Pai atencioso, lançando-se no vazio, vasculha o
chão, pedras e ervinhas, buscando insectos, que
logo se apronta a levar à fêmea, que assim dá
seus primeiros alimentos sólidos, aos pequeninos,
tirando algum pouco para ela, que coitada não
pode sair do ninho; e lá vai o macho, numa roda-viva,
sem descanso, trazendo comida atrás de comida,
enquanto os pequerruchos engordam, a olhos vistos.
Jorge Humberto
13/09/08