EM COMUNHÃO

Entre árvores e medronhos

e carícias de ervas rasteiras,

caminho pela noite, tendo por

detrás, a luz cristalina do luar.

Algumas sombras, que passam,

são indícios de vida, que a noite

acolhe, em seus braços, de

madrepérola e terracota.

Chamam-me à atenção, os montes

mais longínquos, de onde só

posso imaginar, o que por lá habita:

flor, corola aberta, para as manhãs,

de todos os dias.

Por toda a assimetria da cidade,

com seus degraus, cheios de verdete

e luzes de néon, candeeiros emitem

uma luz difusa, rodeada de morcegos.

De repente, uma chuva insistente,

molha tudo à sua passagem. Mãos

nos bolsos não refreei-o minha

caminhada e outras portas se me abrem,

novas telas, de um mundo em ebulição.

Vagabundos, dissimulados, pelas

esquinas de cartão, remedeiam-se

com o pouco que têm, para se

protegerem da chuva, descendo mais

alguns degraus, de encontro às

paredes dos prédios.

Tudo isto eu vejo, na minha caminhada

solitária, noite dentro, com mais

interrogações do que certezas,

escutando o róscido, vingando nas flores.

Por fim – meus olhos sempre atentos –,

reparam, vindas da linha do horizonte,

as primeiras cores garridas, prenunciando

o fim de minha jornada nocturna.

E de regresso a casa, acariciando o teu

rosto na moldura, eis adormeço.

Tudo o resto é movimento e sobrevivência,

de última hora… passam alguns carros.

Jorge Humberto

02/09/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 03/09/2008
Código do texto: T1159747
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