O poder do sonho
Meus olhos não vêm horizontes
Mas meu coração me manda seguir
Ainda que ameacem minha paz
E todo o meu esqueleto ruir
Retumbe o que não posso deixar de ouvir
Atravessando a ondulação dos montes
As canções dos sonhos nos
Quais aprendi a destilar a vida
Chegar, marcar nas arvores um nome
E depois para mais longe partir
Dizem-me mitológicos seres
Herméticos conceitos
Nos quais tentam me inserir
Mas meu espírito irrequieto
A despeito de seus olhares antigos
Voa rápido a construir
Como um louco arquiteto
Enquanto falam
Outros mundos
E outros sonhos
Se por ali não se permite
Os dinossauros burocratas
Grandes magnatas
Quedos imóveis de artrite
Ah, não me venham com isso
Isso
Isso vossa filosofia
Parca e perdida
Baseada em foscos sentidos
Deixem-me a liberdade
De contemplar o amanhecer
De um novo dia
Não uso óculos escuros
Minha cegueira e minha loucura
São minha razão de ser
Não me tirem isso
Não tentem tirar-me isso
Por que em vão trabalhareis
Em vão
Em vão por que o sonho não morre
Para quem sonha sempre
Pode até maltratar
Os meus ideais
Fazer os meus olhos
Como brotos
Aguádos com água fervente
Mas eu continuarei sonhando
Sim!
Ainda que
Não consiga
Caminhar pela estrada
Que vislumbro
Pela estrada que me empenho
Em te mostrar a beleza
E a pureza
Ainda que
Instale a cada esquina
As tuas esfinges do retrocesso
E das burocracias
Que te dão o poder
Eu vou seguir
Por que eu sou livre
Dentro dos sonhos
As minhas realidades
Respeito-te
Respeito as vossas vontades
As vossas faltas de vontade
As vossas visões
Que encontra maldade
No bico do beija-flor
Mas seguirei
Ainda que sem vós
Ainda que no escuro
Porque se matais o pássaro azul
Que te apontei
No claustro não ficarei
E com a força descomunal
Que anima o meu coração
Pelas florestas fechadas
Em meio à escuridão
Abro caminho
E faço luz
Queimando violentamente
A energia de minha solidão!