Apenas quem não é é que pode vir a ser
Apenas quem não é pode ser poeta
Não me martirizo
A poesia bateu à minha porta
Destruiu as aortas
Eu não sou,
Não...
Primeiro vem a poesia
A poesia sou eu
Meus membros e meus olhos
Minha voz e meus dedos
Meus traumas e meus segredos
O que penso
O que acho
Meu amor
Minha fúria
Todo ser humano é um poema
Uma poesia que pouco dura
Estou sobre controle
Sob o descontrole de sentir
Mais que posso
E ouço silfos a zunir
Como que me fosse explodir
Em poeiras de mundos siderais,
Não se preocupe,
Sou eu a ouvir,
E quando ouço procuro
E quando procuro não acho mais...
Muitas vezes essas poesias não são para mim
É para os outros
Na verdade
Tudo é para os outros
Nada é-nos para nós
Eu escrevo para quem encontrar e ler o que escrevo
É uma pedra no meio do cascalho
É um ponto mais escuro no escuro
Um copo de água doce em meio ao mar
Não espero,
Se ela não achar ninguém que a encontre
Que isso não me seja comunicado
O vento e tempo
E os monstros alados
Tudo pode destruir
E tudo acaba
O que se ver
E o que escondido estar,
Todavia, se alguém a encontrar
Que saia do seu estado normal de pensar
Nosso tempo sempre estar terminando
Mas o tempo nunca termina
O que acaba é o corpo
A vela que se apaga
Sinto monstros roendo o meu coração,
Isso é normal...
Ser poeta
Poeta
É ter um sentido a mais
É ter dois três, e muito mais,
É perceber beleza num monturo
E vida onde há morte
Ser poeta é ser um ser de sorte,
Um mensageiro da morte,
Que percebe a olhos abertos
O que a maioria não pode ver
Por isso o poeta é forçado a escrever
Para dar caminho a quem não tem
E fazer sentir aquele que não sente
A dor que tem
E a dor dos outros
E a dor do poeta também
Ser poeta é humanizar o ser humano
É levantar a bandeira de pano brando
E mais que dizer que a paz
Está dentro de nós
E que todo homem pode estar em guerra
Mesmo a ermo e a sós,
Que cada um pode se cuidar
E deixar de ser menos animalesco
Que pode doar
Mais que o que pode
Que pode amar
Mais que o que pode
Amar
Os mendigos das ruas como a irmãos
E perdoar a quem o matar
E perdoar o que o mata
Dar a quem tem fome
Seus membros,
Seu coração...
Os seus pertences ao ladrão
Ser poeta é não ter nada
Não desejar nada
E ter tudo no mundo da ilusão
Quem não chega a isso
Não é Poeta
Amar é condição necessária para poetar
O poeta falar de tudo
E fala de nada
E enche o mundo
E ver tudo na estrada
Na estrada das almas deserdadas
Fala do amor
O amor é o vulcão
Que faz rugir seu coração
O poeta é amor em concepção
Fala da morte
Da má sorte
Dos vazios de amar
E chorar
E chorar
São de lagrimas do poeta as águas do mar
O poeta fala de tudo
E fala de nada
Mas pensa e sonha
A vida do poeta é sonhar
É a realização sonhar
O poeta fala de agonias,
Da vontade de se matar,
Vive muitas vidas
e entre essas a sua estar
a que ele busca
e que nunca vai achar
por que se assim o fosse
O poeta nao teria mais do que falar
Encontrar-se é parar
É a morte do poeta
É perder a energia
A capacidade de sonhar
O sonho é o que faz bater
Dentro do peito
O coração sempre insatisfeito
Do poeta que nunca pode parar...
O poeta está sempre perdido
Entre as dores do mundo
No vácuo profundo
Do seu coração
Estendo a mão
Para sua alma etérea
Que o não pode tocar
Nem ser tocada por ele
Oh Irene!
O poeta se encontra
Entre os sonhos que pode sonhar...
Sou uma pessoa simples
muito frugal
escrevo o que sinto
Imiscuído com o que vivi
E as expectativas do que vou viver,
Misturado com o que li
Com o que vi,
E do que não poderei realizar
Ser poeta é sonhar
É ser o sonho que ele vai sonhando
Entre flores e espinhos
O poeta sentiu o perfume das rosas
E se alça muito alem,
Alem de toda a dor,
O coração do poeta
Está cheio de dores aleijadas,
Elididas...
Na mente do poeta os poemas voam
São aves terríveis
Algumas coloridas
Outras, pura sombra,
Que nos vem assombrar
E desse medo que nasce o poema,
Se um poema saiu com cara de alegria
É pura fantasia
De quem pensar ser o que o fez feliz,
É falseta que a ninguém pode enganar
Todo poeta é atormentado
Pelo que pode ser
E pelo que não pode chegar a ser
Ser poeta é um ser em continua transformação
Formação
E destruição
Ser poeta é ter, no seu,
Uma infinidade de coração...
Ora está muito, muito triste
É a poesia nascendo em seu cerne
Depois isso passa
Depois vem a solidão
Depois o poema se revela
Que pode ter naturezas diversas
Pode falar de amor
E falando disso
Vai falar também de solidão
E de dor...
Os poetas não atormentados não fazem poemas eternos
Não são Poetas,
São calculistas
Que o tempo,
Como o vento carrega as folhas das árvores,
Vai também o relegar ao esquecimento...
Sinto uma solidão constante
Uma eterna vontade de amar
Como se tivesse luz
Mas não houvesse quem a quisesse pegar,
Sinto uma solidão constante
Uma eterna vontade de chorar
Como se fosse rio
Em que todos os sonhos
Vêm se afogar...
Talvez eu também não seja,
O que de que falo,
O que define o Poeta não é o poeta
É o tempo, é o vento, as pedradas, as eras.
Não é a pessoa que escolhe a Poesia, mas essa que o vem chamar
Estou com sono,
Queria dormir...