- O GRITO DA TERRA -
Como infinita e sempre aberta ferida,
segue, mais uma estrada,
a rasgar o verde,
a destroçar o ventre,
a consumir as entranhas
da Terra-Mãe desolada.
Dizem ser,
via necessária ao progresso
que se pretende fazer,
apesar de sua desmedida voragem
de dizimar tudo o que encontra
em seu caminho:
seja bicho
árvore
ou o próprio homem
esse predador enlouquecido
de sua verdadeira origem esquecido,
esquecido de sua frágil condição humana,
- do Pai, criado, à imagem e semelhança,
porém, corpo no barro moldado.
A agressão segue incessante,
ao ritmo monótono e frio do machado,
na cantilena aterrorizante
das moto-serras,
no trágico avançar do trator.
e, sem voz contrária que se levante,
a Terra grita sua dor,
num pranto de lágrimas secas,
por secas as suas nascentes,
pelo egoísmo, cobiça e ódio
oculto no agro-negócio,
e pela mesquinha indiferença
de cada um de nós.
- por JL Santos, madrugada de 09/04/2008 -