Agosto

Dos doze, és o injeitado, o indesejado.

Teu nome é sinônimo de desgosto.

Todos ou quase todos viram-te a cara.

És o único a iniciar-se aziago.

És a ironia destilada, a antítese extravagante,

O cume do pico-alegria, o fundo profundo do poço-tristeza,

O bruxo e o antídoto de todas as bruxarias.

És a intersecção entre a candura angelical e a carranca abominável

do algoz que comete atrocidades inomináveis.

És dúbio, porque albergas em ti o verso e o reverso das coisas.

És ambíguo por natureza: tens alguma coisa de estival

E qualquer coisa de outonal.

És o avesso, o disparate, o tormento cruel entre

Querer esquecer e a impossibilidade do esquecimento.

Há gosto de fruto temporão no ar,

Há gosto acre-doce de sangue e gargalhadas, de risos e de lágrimas;

Há gosto de perfume de lírios ao luar, de brisa marinha

Que acaricia languidamente o corpo de meu pressuposto amor:

Meu amor tem os olhos de tempestade ao entardecer,

Olhos de saveiros naufragados,

Olhos de mar azul-turquesa no intervalo entre

A maré-vazante e a maré-cheia.

Tens uma beleza magnífica:

A mão divina pinta, todos os dias, com excessos de perfeição,

Tua aurora e teu ocaso;

Teus dias sucedem-se plenos de luminosidade;

Teu céu é de um azul ímpar;

tuas noites são límpidas e estreladas, e

A lua mostra-se mais majestosa em sua beleza dura e fria.

Agosto, preterido dos poetas,

Quisera eu cantar-te em odes,

Quisera eu ter palavras para falar-te de

Meu bem-querer por ti . . .

Quisera . . .

Oliveira