HARMONIA ENLOUQUECIDA
Sou como o mar, às vezes, calmo.
Sou doido manso, sou louco feroz.
Sou um claro assomo de insanidade.
Sou nada disso, sou muito mais.
Nas curvas de mil caminhos sinuosos,
Derrapei nos contrapontos do real.
E, se hoje, vejo através de óculos partidos,
É que a vida por mim segue sem deixar sinal.
Pegadas, rastros, vestígios: o que seguir?
Quem foi na frente se perdeu em fragmentos.
Quem disse: Eu sei! Bem sabia como mentir,
De nada entendendo acerca de si mesmo.
Hoje, nessa tarde; ou será ausência da noite?
Vejo, tímido e impreciso, o futuro em atropelo.
Porém, nada que me venha, se fará grilhão ou açoite.
Em furioso galope, vou montando a vida em pelo.
- por José Luiz S. Santos –
Nota: Este poema foi composto depois de assistir a uma apresentação da Banda Harmonia Enlouquece, composta por médicos, servidores e usuários do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro.